domingo, 22 de março de 2009

RAID - Cabanas de Viriato

Cabanas de Viriato


Para se ser caminheiro, há algumas coisas que necessitam ser feitas. Não se é marinheiro se nunca se foi ao mar. Nós fomos. Ao caminho, naturalmente.

Tudo começou muito cedo. Em relação a sábado, porque começamos na sexta. 23h30 e o clã, quase todo, estava pronto para ir. Sim, era a hora marcada. Apesar de a pontualidade ser uma das coisas que se vai perdendo, naquela sexta houve esperança.

Fomos para a estrada. Havia uma hora marcada com o Sr. Augusto, presidente da Sra. Freguesia de Beijós. Faltamos a essa hora. O nevoeiro foi a desculpa (ou a culpa?), mas, graças à grande simpatia daquele homem, ainda podemos dormir (pouco) minimamente bem. Vontade de alterar horários. A hora programada para levantar era às 5h (da manhã). E acabou por ser usada. Para acordar. Pormenores à parte, lá fomos. Como? Incrivelmente rápidos e resistentes. Par onde? Para o Sul, naturalmente. Porque comprar 2 cartas topográficas é caro. E escuteiro sabe poupar.

Cabanas do Viriato. Quem disse que o destino final tem que estar no fim? É o nome que acabei de dar que determina a ordem cronológica? Rebeldia ou não, fomos primeiro ao destino final. Pode ser confuso, talvez até estúpido, mas na hora fez sentido. Ou isso, ou final não é bem o nome que se deve dar a um destino.

Vimos a casa de Aristides de Sousa Mendes. E sentimos também. Reparamos que ele tinha de andar devagar pela casa, afinal, aquilo estava um bocado podre. A Teresa quase caiu, outros quiseram desafiar a Física, mas à saída, estávamos todos vivos. E felizes por só se ter visto “Perigo de derrocada” no final. Porque senão, iríamos ignorar um aviso. Assim simplesmente estávamos a pesquisar na ignorância.

Chegamos a todos os lugares antes das horas programadas. Excepto a um: O rio. O rio tem uma história engraçada. Duas pessoas, muito desocupadas e com sérias perturbações, viram que, era capaz de dar para descer para o rio, a partir de um sitio totalmente aleatório. “O rio vê-se daqui, porque não?”. Um deles vira-se para trás “ ‘Bora por aqui?”. Alguém responde: “vamos” e os outros se não responderam foi porque não quiseram, ou não se ouviu, porque realmente, lá fomos.

Os primeiros 10 minutos foram fáceis. Mas o rio ia ficando mais longe. E mais baixo. Não se sabia bem porquê. O caminho começou a complicar, eram rochas, ou buracos, ou espinhos. O resultado final não foi nenhuma obra elegante. Uma vara deficiente, umas pernas mal tratadas, uns desabafos e umas rezas de agradecimento. Foi preciso explorar, acalmar, parar, confiar e coragem. Coisas que, hoje em dia, dão trabalho e que faltam, mas que sem elas, não se conseguia um corte de 2 horas.

Merecido rio! Vamos a um mergulho? CLARO. Ok, está fria. Mas agora que se chegou aqui… temos de mergulhar. Foram os mais corajosos, quem ficou em terra teve direito a umas gargalhadas. Expressões não fotografadas, gritos de esquecer. Água fria…. Faz bem aos ossos mas mal à coragem. 1 ou 2 mergulhos, 3 ou 4 sabonetadas, mas lá se esteve por aquele rio, difícil de alcançar, de mergulhar, mas fácil de contemplar. Perto de Espanha… Tínhamos de o fazer. Uma sesta. Sentir o inicio da primavera e descansar um pouco do esforço prestado. Merecemos, mas mais do que isso, quisemos.

E toca a voltar. Sabíamos a direcção, não o caminho. Não tínhamos noção que estávamos tão longe do próximo destino (Carregal do Sal, concelho daquela região). Tínhamos de subir. Mas também um horário a cumprir. Mas não era um horário qualquer. Era mais um compromisso. Telefonou-se ao Sr. Augusto e foi dito (e passa-se a citar): “Vamos chegar cedo”. Bem, alguma boleia para a subida. Pelo menos até Carregal do Sal. A sorte estava do nosso lado, a Rita também. Fomos num tractor.

Só faltavam uns 14 Km. Só. E havia umas 2-3horas para o fazer. Fácil, diriam. Claramente. Não fosse aquela descida psicadélica uma droga da vontade, mas que causou ressaca. Mas fomos. Acelerados. Não íamos falhar com aquele homem mais uma vez, não não. Escuteiro de S. Félix não falha 2 vezes seguidas com a mesma pessoa. E toda a gente se esforçou. Mas, nos últimos minutos, alguém diz “Vão vocês à frente que aqui a traz precisamos de abrandar”. E foram. Foram com coragem. Agora a missão era ainda maior. Representar todo um grupo. Responsabilidade dobrada, velocidade também. Meia corrida, meio passo. Os pés gritavam, as bolhas esquentavam, o coração acelerava. Vontades de desistir, rostos cansados, t-shirts suadas. Mas chegamos! À hora!

Horários compridos, vontade feita, missões realizadas. Um descanso merecido. Era unânime. Acordamos a horas. Uma missa próxima do nosso local, mas também das pessoas. Comprimentos, informalidade. Já sabiam quem éramos, de onde vínhamos. Uma casa construída em 1 dia e meio. Que custou abandonar. Uma promessa, um vinho por brindar e um bom almoço. E assim, colocamos reticências neste fim-de-semana de conclusões.

Quando houver 2 caminhos para escolherem, não escolham o mais fácil, ou mais difícil. Escolham aquele que toda a gente pode participar. Ou com um desabafo, ou com uma necessidade de ajuda, ou com espírito aventureiro, não importa com que colaboram.

E por mais que se caminhe, ou se pare, o importante não é onde, ou para onde, mas com quem. Há coisas que não se aprendem a andar, nem parados, nem na casa dos outros. No fundo, qualquer lugar é bom para se estar. E o lugar para o qual se deve regressar, é aquele em que pensam em nós. E o Senhor Augusto, nem que seja por um fim-de-semana, não parou de o fazer.

A ele, obrigado.


2 comentários:

Anónimo disse...

Caminhar com os pés daqueles que ja fazem parte do nosso caminho à muitos raids e à muitas t-shirts encharcadas tem uma cor especial* No entanto, n se percebe por q é q só se decide começar a tirar fotos em momentos terríveis, cm a descida daquela pedra medonha, a partir de mim!bah!E de fotos proprias pro hi-cinq(:=/)...eu tb n tenho culpa! Caminhar convosco é...chamar tudo ao presidente, menos o seu verdadeiro nome: n é Joaquim, nem Augusto: é Agostinho!

Té**

Anónimo disse...

Agostinho... Hmm, bem me pareceu. Mas um homem daquele calibre não merecia um diminutivo xD.

Para mim, será lembrado como Augusto, governador de Beijós e antigo governador de Roma.